Não Sei Para Onde Ir


Não sei. Nunca soube ao certo.

A Ventania que chega é aquela que me leva. Não sei ...
A que caminhos meus pés se consagram, mas ...
Meus olhos já apontam para a Distância
Que sedutora me abre os braços: faminta
Da dissonância que permeia meus vãos desígnios.

A Distância ...

Em cujo lábio hei de me embriagar de flores-sóis-e-marés.
A Distância ...
Que serpenteia ante os meus errantes desejos de amá-la,
Como só um trovador é capaz de amar sua canção.

Ah ... Distância!
Que haverá de compreender o meu cansaço de estar com ela.
Posto que nem ela
Seria capaz de deter a angústia de querer o que vem
Depois dela: 

O Limite ...

O Limite que assombra.
O Limite que incendeia a asas do ícaro.

( Mas o ícaro depois que aprendeu a voar,
Atirou no abismo da inutilidade os pés ainda infantes
Que o levaram ao cume do monte
De onde avistou o firmamento que o quis. )

Meus pés
Meus pés ainda divagam ... fiéis conselheiros que são de minhas asas
Inconseqüentes asas que são
Do esboço que traçam na Distância que as despedaça.

E eu me vou. E me vou sempre. Sem que saiba nunca 
O que haverá além ... da sombra
Cambaleante que projeto adiante de mim. 
E ela segue ... Como se me guiasse. Ela segue ...
Trocando confidências com a Distância,
Conspirando a meu favor e contra mim, sem se dar conta
De que é uma marionetes sob a alcova de mãos débeis 
Daquele que um dia haverá de caminhar no sentido contrário, 
Sendo ele então ... a Sombra
Conspirando com ela e não com a Distância,
Que entediada e sentindo-se só ... buscará

Ah, buscará ...
O abrigo naquele que a amou, sem saber que amava.
Sem saber que em si
Amor havia: O Limite.

E ambos serão cúmplices do bardo e da sombra
Que no intervalo das horas promíscuas haverão de se bastar
Um ao outro.

E a caminhada terá o seu recesso,
Para o descanso das flores-sóis-e-marés que se agitam
Aos meus pés,
Contando histórias que já não distraem como a um instante
O Instante líquido que me cedeu a vez no agora,
Desta hora cinza.

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