O Caminho Sem Termo


Nunca chegarei ao termo do caminho
E no entanto, em cada passo que dou há uma insaciedade
Que me conduz adiante e insiste em contrariar-me os desígneos


Há neles uma estranha fé que me escapa quando páro
A fitar minha sombra com o sol por detrás
Como que se guiar-me ela pudesse
Sem se dar conta disto


Mas sinto nela um incômodo, um desejo de posse por si mesma,
Uma urgência por subtrair-se de minha presença
E a compreendo
E a amo por reconhecer nela aquilo que não sou


Nunca chegarei ao termo do caminho
E no entanto não há em mim qualquer aflição nessas horas
Basta-me agora a fiel semelhança com a nuvem:
Informe
Tediosa
E sem propósito
Que apenas está ...
Num céu que é!


E que se ri
Dos passos voláteis e sem termo que dou
Cheios de vertigem
E vazios de mim

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