Uma Canção Sem Verso

Hoje quero estar longe de tudo que me pareça humano,
Pois o que menos preciso é lembrar que sou espelho desta corja
Ah, Deus, devolva as asas que tiraste de mim quando nasci!
Sem elas, sou como a folha que se desprende da árvore
E, seca, vaga moribunda sob o domínio da insensatez dos ventos
As estrelas ainda zombam de mim porque sou cometa errante
Que perdeu a cauda flamejante e despencou dos céus
E se fez cativo nesta terra que, faminta, lhe devora as raízes
Em busca do alto, me angustio em demasia, pois do alto
Se esgarça a voz trêmula que me condena à este cárcere
E atormenta o meu espírito, ávido por estar junto àquele
Que projeta sua sombra no esconderijo do Altíssimo
Ah, ouço a Canção e falta-me ainda o Verso que à ela se acasale
Mas quando chegar a noite, quem haverá de me ouvir cantar
Embriagados que estarão em seus próprios sonhos ?
Estou cansado, mas minha carne não deseja a navalha
Que lhe cubra de sangue, deste sangue pelo qual duelam vampiros
Pois que me indiquem uma porta cuja chave eu tenha em mãos!

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